quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pinóquio universal

Considerado por Benedetto Croce como “o mais belo livro de literatura infantil italiana”, Pinóquio é uma obra que percorre o mundo. Graças à sua força narrativa, reedições (a primeira edição de 1883 já foi reeditada cerca de 150 vezes), traduções e retraduções, a obra-prima de Collodi é um clássico dentro e fora da Itália.

Carlo Collodi, o autor de Pinóquio, iniciou sua produção literária para crianças em 1866 traduzindo contos de fadas franceses (Perrault, Mme. Leprince de Beaumont, Mme. d’Aulnoy), que foram reunidos na publicação Racconti delle fate (Contos de fadas), de 1875. Collodi também escreveu livros para o ensino fundamental, o que fazia com grande habilidade linguística e estilística, unindo narração e divulgação de conhecimentos científicos e literários. É, por isso, considerado um benemérito da educação pública na Itália. Em 1881, publicou no Giornale per i bambini (Jornal para crianças) o primeiro capítulo de Storia di un burattino (História de um boneco), que deu origem ao livro Le Avventure di Pinocchio (As aventuras de Pinóquio).

Inicialmente, a história de Pinóquio foi publicada em 26 capítulos, de julho de 1881 a janeiro de 1883, com algumas interrupções; a composição seriada pode estar por trás de certas faltas de lógica na narrativa apontadas pela crítica. O sucesso veio logo depois da publicação dos dois primeiros capítulos. Collodi terminara a história com o capítulo em que Pinóquio foi enforcado, porém, por causa dos insistentes pedidos dos leitores, estendeu a obra até o capítulo 26, no qual Pinóquio se transforma em um menino de verdade. Os 26 capítulos foram reunidos em livro em fevereiro de 1883 por Felice Paggi, com ilustrações de Enrico Mazzanti, com o título Le avventure di Pinocchio. No livro, Collodi introduziu algumas mudanças: procedeu a uma nova divisão em capítulos, que passaram a ser 36, e acrescentou um sumário introdutório detalhado antes de cada capítulo.

Como se sabe, As aventuras de Pinóquio narra a história de um boneco de madeira feito por Geppetto, um homem velho e pobre. A madeira, porém, é mágica, de modo que, depois de pronto, o boneco começa a se mexer e agir como um menino de carne e osso. Como tantos meninos, é desobediente, não ouve os conselhos dos mais velhos e prefere divertir-se em vez de ir à escola, mas é ingênuo e tem um bom coração. Um dos traços típicos de Pinóquio é que quando mente seu nariz cresce, uma imagem tão acertada de Collodi que é conhecida mesmo por aqueles que nunca leram o texto. Geppetto se afeiçoa a Pinóquio e o trata como um filho. Quando Pinóquio sai de casa para ir à escola, envolve-se em diversas aventuras e dificuldades. Finalmente, através de seu próprio esforço, e com o auxílio da Fada dos Cabelos Azuis, Pinóquio se transforma num menino de verdade.

A história de Pinóquio foi escrita no período da Restauração da Itália, ou seja, do recém-formado Reino da Itália, que congregava regiões com grandes diferenças históricas, de ordem política, administrativa, social, civil e linguística. Collodi, porém, escreve para as crianças sem se ater às regras moralístico-religiosas da época. A infância é um tema central na sua obra, tanto nos livros escolares como nos de ficção. Os críticos costumam distinguir em sua obra duas interpretações da infância: a histórica, diferenciada por classes sociais, e a simbólica.

A infância simbólica está presente em Le avventure di Pinocchio. O próprio nome escolhido para o protagonista é simbólico; “pinocchio”, em italiano, significa “seme comestibile dei pini” (semente comestível dos pinheiros), portanto, ligado à madeira, material de que foi feito o boneco. Esse personagem resulta da fusão dos dois modelos de criança: o menino de rua e a criança burguesa; é também o arquétipo da criança simbolizando a essência comum a essas duas infâncias opostas. Apesar de ter vivido no século 19, quando prevalecia uma ótica pedagógica moralista na literatura para crianças, Collodi mostra, de forma intuitiva, principalmente em Pinóquio, um enfoque da literatura infantil que só se generalizaria no século 20. Diferentemente de outros livros para crianças, escritos para adultos e depois adaptados para os leitores mirins, Pinóquio foi escrito diretamente para as crianças.

Pinóquio é uma história que percorre o mundo, graças à tradução. Um dos últimos levantamentos diz haver 260 traduções em diversas línguas, além de inúmeras transposições cinematográficas, teatrais, em quadrinhos e em vários dos novos formatos digitais. O livro é, também, objeto de estudo em dieferentes áreas, da pedagogia à linguística, da psicanálise à economia. Aliás, em uma passagem do livro Geppetto diz que gostaria de fazer para ele um belo boneco de madeira, um boneco maravilhoso que soubesse dançar, dar saltos mortais, e que com esse boneco gostaria de viajar pelo mundo. O desejo de Geppetto parece ter se realizado, pois Pinóquio se transformou em personagem universal.

A carreira internacional de Pinóquio começa em 1891 na Grã-Bretanha, onde a primeira tradução para o inglês foi acolhida de forma entusiástica. Essa tradução é difundida em todo o âmbito de língua inglesa, entre outros Irlanda, Estados Unidos e vários países asiáticos. A primeira tradução norte-americana é de 1901 e foi seguida pela tradução francesa em 1902 e uma adaptação para o alemão em 1905. No período compreendido entre 1911 e a Segunda Guerra Mundial foram publicadas traduções de Pinóquio não só em línguas européias, mas em diversas línguas da Ásia, da África e da Oceania. As adaptações para o cinema começaram em 1911 (com filme mudo, colorido a mão, de cerca de 30 minutos de duração) e muitas outras se seguiram, como a famosíssima versão de 1940, da Disney, e a de Roberto Benigni, que está muito próxima da história escrita por Collodi, e foi lançada na Itália em 2002, ou ainda o filme Hinokio, de Takahiko Akiyama, que recebeu o prêmio de melhor filme infanto-juvenil no Festival do Rio de 2005.

No Brasil, a obra de Collodi chegou tardiamente. Isso talvez se explique porque, embora o país apresentasse um panorama propício à produção cultural devido à urbanização e à ampliação do ensino, a incipiente indústria editorial enfrentava muitas dificuldades. Entre estas estavam as altas taxas de importação sobre o papel e a polpa; a concorrência com os livros importados de Portugal, isentos de impostos; e o reduzido número de leitores devido à alta taxa de analfabetismo. Como resultado dessa situação, conforme constatou Lia Wyler em Línguas, poetas e bacharéis – uma crônica da tradução no Brasil (2003), muitos livros brasileiros eram impressos em Portugal e na França.

Somente após 1930, com a aprovação das leis trabalhistas, educacionais e eleitorais no governo de Getúlio Vargas surgiram condições mais favoráveis à produção de livros no Brasil. A difusão do “ideário estado-novista” dependia da alfabetização, o que incentivava a produção de livros. Porém, a censura do governo impedia a tradução de muitas obras. A tradução de livros infantis foi uma opção a que se dedicaram muitos escritores e editores. Monteiro Lobato realizou e publicou, em 1933, a primeira tradução de Le Avventure di Pinocchio no Brasil. Após a pioneira tradução brasileira de Lobato, muitas outras se seguiram. Assim, apenas entre 2002 e 2008, foram publicadas nada menos do que nove diferentes traduções em português do Brasil.

Dentre elas, destacam-se as traduções de Monteiro Lobato, na sua 15ª reedição em 2004; a de 2005, com tradução de Aurea Marin Burocchi, pela editora Paulinas, edição crítica, lançada por ocasião das comemorações do centenário de Pinóquio; a tradução de Marina Colasanti, de 2002, pela Cia das Letrinhas, com reedição em 2008, que recebeu da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), em 2003, o Prêmio Monteiro Lobato, categoria “A melhor tradução/crianças – hors concours”, além de integrar a coleção de títulos entregues, no ano de 2002, pelo PNE (Programa Nacional da Escola), do Ministério da Educação, para a formação de bibliotecas e para estimular a leitura nas escolas públicas brasileiras do ensino fundamental.

Leonardo Arroyo afirma que Collodi foi um dos autores que mais contribuíram para o desenvolvimento da literatura infantil no Brasil. Cabe notar que Pinóquio é das poucas obras italianas presente nos catálogos das principais editoras que publicam literatura infantil traduzida, pois é um clássico que continua a nos encantar: adultos e crianças.

 

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